sábado, 30 de maio de 2015

Poema do poeta alegre, do qual o escritor, agora, corre atrás

Manhã cativa.

É sono que não vem
Pros olhos que perdi.

Algo que passou de cheiro
E persegui.

Vou, e sua língua
Me toca a pele gritante.

Manhã cativa
E ela é sua, e sua eu

E soa, e soa
Úmida música palpitar

Flutua, e flutua
Té que a dor não seja mais
Só igual
E reticências, e passares.

domingo, 12 de abril de 2015

Soneto ao rapaz triste, pelo qual o poeta, outrora, sentira algo que hoje torna ao riso.

Subindo a ladeira, um ponto azul
Passeando sua linda cachorra
Volta pra casa onde pôde
Tanto tempo ser sul.

Grã pena que corra!
Enfia a chave fundo
No portão gradeado injusto:
Louco! sua mão treme sem porra!

Ah, noite fria, orvalhada em lua
Na orla de sua entrada, uma folha
Orna em m'nha face escura uma luz

Que defronta alegre sua forca
Te ofusca o azul rumo ao triste fusco...
Não tema! Alegria é quem fura bolhas!

domingo, 29 de março de 2015

Sua presença rubra em tempo
É qual vento em noite fresca
Finda a pena em cinco meses
Hoje certa e agora intensa
Cinco a mais terei presente
Para o certo e intenso avesso.
Em Pausânias há o excerto
Sábio tem princípio em barba —
Nada... tem princípio em vida
Em sofrer sem vias más,
Alma, auriga e dois cavalos.
Seus peidos, faces, cheiro e mais!
Só você me quebra... sim: sim!
      Cê me trouxe à realidade!!

domingo, 18 de janeiro de 2015

Sua presença em chamas
Sua ausência estanha
Não, não... erro
Falar assim
cria a ideia falsa.

Uma lata no fundo
Pelo amor uma ferrugem.
Canta o esquife preto listrado
Nossa amizade de amor
Nossa alegria esvoaçame.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

As gaivotas de Bach

I
Berrando como o inferno,
Vão duas gaivotas
Às enxárcias carmesim.

Nem a espera, nem o caminho;
Nem a revoada, nem a chegada...
O voo.
O azul atrás, o senclér acima
E o branco em frinchas.
Tudo o que sinto sou
Tudo o que toco me é
Minha ascendência é plana
Meu horizonte são dois.

Planando
Só existe ar em meu sob
Em minhas vísceras
Meu espírito.
E bato asas – e sei – você está.
A noite vem do oriente
Mar sereno e calmo qual metal
Insetos rastejantes com cascos
Nos mãocomunamos.

Ouvi de você:
"O vento é torto
Não sei, se me esqueço o que fiz
Foi porque fiz com o sentir.
Tenho medo
Preciso de quem me segure."

II
Duas coisas
Que brilham:
A terra e as estrelas — céu.

A noite cobriu-me em fora.
Grilos criem
Cigarras gorjeiam
E bato as asas:
E me subo, vou e vou
Em busca do frio
Que a noite não trouxe.
Seu fogo córeo...
O que você me deixou?

Do peito direito
Navega
Ao abdômen esquerdo
– De sudeste a noroeste –
Me escoam as raízes.
Sua presença não falta,
Passa.
Tristeza?
Só no que não existe!

E ouvir de mim:
Você se tornou só mais um amor não correspondido.
Veio e não foi.
Peixe pula d'água —
O arrebol me descende —
Só no sem rumo — alegria.